Vivemos numa civilização onde há excesso
de barulhos, e por consequência, tivemos que aumentar o tom de nossa
própria voz de forma bastante considerável. Este é um dos motivos que
fazem sentido, pois quanto mais alto o barulho em volta, mais alto temos que
falar. É claro que eu faço o contrário. Quer me ouvir, abaixe o rádio, a
televisão...
É claro que temos que levar em conta que
falar alto pode ser um sintoma de ansiedade ou até de insegurança... sim, por
medo de não serem ouvidas, muitas pessoas falam alto e rápido.
Existem outras razões também, certamente.
Pessoas que falam desta forma e precisam sempre se cercar de pessoas, numa
tentativa de "não solidão", que não se resolve e só potencializa o
sintoma.
Estas pessoas mesmo sozinhas,
ligam a televisão só para terem a sensação de companhia. Precisam de
barulho. Lamentável, mas comum e verdadeiro. Uma versão mais saudável e
terapêutica seria ouvir música. Ah... adivinha que tipo de música ela vai
ouvir? Aposto que nada que acalme. Música light as deixa nervosas.
Isto ocorre com mais frequência do que
gostaríamos. Em um dia comum, a pessoa pega um taxi, por exemplo. Ela entra e
cumprimenta o motorista educadamente. Ele fala do engarrafamento, você responde
monossilabicamente só pra não deixar o sujeito no vácuo. Ele percebe? Não. O
rádio está falando alto em uma sessão tortura auditiva - contando todas as
mazelas e coisas ruins que acontecem.
Ele comenta. Momento respirar fundo e
dizer que não costuma ouvir esse tipo de noticiário para não ficar sob o efeito
energético e não começar o dia triste. Como se nada tivesse ouvido, ele conta
casos e dá opiniões sobre o governo, o desgoverno, fala da mulher e dos filhos.
Pronto, você está diante de um drama: avisa a ele quanto será a sua
consulta, ou desce do taxi. Como você não quer ficar no meio do caminho,
tampouco piorar um pouquinho o dia do sujeito, acaba falando com ele, mudando
de assunto, tentando levantar o astral. Ok, quando você chega ao destino, já
está cansada, pode voltar pra casa.
Enquanto isso, o tempo passa, você chega ao
consultório do seu médico. Lá tem uma bendita televisão aos berros, ninguém
vendo, pacientes totalmente sem paciência, falando pelos cotovelos,
recepcionistas falando ao telefone em voz alta. Claro, tanto barulho, o tom de
voz sobe automaticamente.
O paciente do lado, sem a menor cerimônia
pergunta qual é o seu problema. Você educadamente diz que está bem. Ele se
conformou? Coisa nenhuma! "O Dr. Fulano é ótimo, está tratando da
minha..." conta suas doenças e sofrimentos, apesar de você estar
dentro da sala de espera com óculos de sol e fones de ouvido. As pessoas não
sabem ler sinais óbvios.
Penso em me libertar e fazer um curso de
grosseria. Nem isso daria certo, à essa altura estou dando conselhos, mandando
a pessoa ter fé, ensinando um chazinho, indicando óleos essenciais, indicando que faça meditação, e mandando
orações pelo whatsapp.
Saio da consulta de bom humor e acho que
mereço almoçar em um lugar legal. Nada de ostentação, mas uma comidinha
simpática. Chego no restaurante, que não tem televisão - me recuso a entrar em
restaurantes com tv - sento, e eis que me entra um bando de senhorinhas
simpáticas e alegres até demais para o meu gosto e ouvidos sensíveis - contavam
a saga da escola onde dão aulas, pelo menos tentam dar. Falam o nome da escola,
da diretora, de colegas, e de repente você ouve um nome e sobrenome. As pessoas
estavam abrindo a sessão malhação de Judas. À essa altura, a minha vontade de
ir embora transformou-se em outra e quando vi já estava diante da mesa das
respeitáveis professoras.
Voz controlada, sorriso forçado, mas não
aguentei e disse: "Me
perdoem a intromissão, mas a Fulana é minha amiga de infância, minha vizinha, e
se vocês a veem desta forma, se o caso é tão grave assim, pergunto a vocês, já
falaram com ela a respeito, ou sorriem e conversam como se gostassem dela?
Vocês são o quê mesmo? Educadoras? Que lamentável!"
A verdade é que não conhecia a pessoa em
questão, mas fiquei indignada com a qualidade de seres humanos que está se
instaurando e piorando vertiginosamente no mundo. Professoras mal educadas
falando alto e mal das vida dos outros, sem contar o fato de citar nomes. Se
falavam de alunos? Sim, falavam mal, claro!
Que fique bem claro que não estou falando
da classe - eu sou professora também, mas se tiver que comentar sobre pessoas
falo baixo e não cito nomes, pelo menos. rsrrs
Fiz isso e quase saí correndo do
restaurante morrendo de medo daquele bando, sim... pela falta de educação e
comportamento, era um bando e não um grupo de professoras. Chamei o garçom e
disse que lamentava, mas precisava me retirar.
Agradeci a Deus que elas ficaram
paralisadas me olhando enquanto eu saía às pressas morrendo de medo. Esse meu
lado ariano é engraçado, faço as coisas num ímpeto e depois morro de medo das
consequências. Ufa, deu tudo certo!
Outro táxi até chegar em casa e já entrei
dizendo com voz mansa: "O
senhor pode me levar em tal rua? Vou fechar os olhos um pouquinho porque estou
cansada. Posso lhe pedir uma grande gentileza? Seria possível desligar o rádio?
Estou com um pouco de dor de cabeça. bom trajeto para nós!"
O sujeito me falou para tomar cuidado
porque poderia ser gripe ou dengue. Nesse momento eu nem precisei do curso de
grosseria: "Senhor, eu gostaria de pensar um pouco em silêncio e lhe
agradeço se não conversarmos". Me senti péssima, pois sei que não é só
falta de noção, é solidão e carência.
Enfim, cheguei em casa e avisei: “estou bem, correu tudo certo, mas agora
vocês só ouvirão minha voz amanhã. Preciso pensar.”
Ainda bem que a família me conhece e sabe
que isto não é estranho, como dizem, “sou peculiar”.
Ainda bem, não estou nesse fluxo de não
pensar, não refletir, na realidade seria a palavra correta.
Enfim, só o barulhinho do ar condicionado,
porta fechada, sem barulho de buzinas, TV, radio, agradeci por não ter que
estar em um shopping na praça de alimentação...
A todos os meus clientes indico “a manhã”,
podendo ser tarde ou noite do silêncio. Nesse momento você ouve Deus dentro de
você, se conhece melhor, tem respostas às mais difíceis questões e aprende a se
fazer boa companhia. É um excelente exercício. Eu recomendo!
Bacana mesmo. Devia ser uma matéria do "Bem Estar" da Globo. Ou mesmo do "Mais Você".
ResponderExcluirPoxa... obrigada mesmo! 😊
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